Vivo de
cinzeiros improvisados. Meus pais não sabem que eu fumo, nem imaginam, não
aceitariam, talvez não me dessem mais dinheiro com o intuito de controlar o
vício. Fumei em casa pela primeira vez essa semana. Incenso disfarça o cheiro,
ou fedor. Fumar, mais do que um ato de rebeldia, mais do que a busca pelo
prazer e relaxamento, é um segredo exposto, escancarado, como a minha dor, como
a depressão já diagnosticada e mal tratada. Algo incompreendido. Essa porta
aberta pela qual não se atrevem a entrar, com esse terreno do qual escapo por
breves instantes, ou do qual tenho a ilusão de escapar.
Ele me deu
flores na noite de hoje, improvisadas, arrancou de seu condomínio. Elas me
fizeram sorrir quando voltei de madrugada para casa, acompanhada somente pelas
luzes dos postes nas grandes avenidas da cidade, e esse foi o momento de ilusão,
anestesiada. Nenhum beijo foi combinado também. Ele em si não foi combinado,
não o pedi a Deus. É que tenho me acostumado a viver de amores improvisados e
com dificuldade de encontrar local para depositar as cinzas. Meu desejo de amar
outra pessoa é fênix.
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