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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Quiromancia

(aka o que eu não consegui explicar ao psicólogo semana passada mas quero explicar ao garoto de quem gosto)
Isso é uma base sólida.
- Fé em Deus, religião; e/ou
- Família, sempre à disposição; e/ou
- Confiança em si próprio.
Há uma paz interior.
Se uma força impele para baixo, nada ocorre.
A minha base se finge de bem sólida. Ela é, na realidade, frágil, muito frágil.
Sou muito sensível ao que ocorre ao meu redor. Se algo me deprime, pode se seguir um momento de solidão e apatia, me envolvo em mim como uma tartaruga se esconde em si.
E de tartaruga eu viro semente sem coragem de florescer. Porque a flor é exposta demais ao mundo e frágil, muito frágil.
Eu sei que agora estou bem, pareço flor, posso encantar, conversar e sorrir sincera. Mas há um padrão, receio. Não é uma fase, é um padrão. Tenho medo.
Eu preciso de paciência para viver, e quem amo precisa de paciência para viver comigo.
Graças a Deus tenho mãos para escrever e organizar essas ideias aqui. Da próxima vez em que for explicar minha retração, posso usá-las, imitar uma base plana, uma base com depressão (e sem antidepressivo), uma tartaruga presa em si como uma mão pronta para dar um soco, uma semente relutante em florescer e a flor que pode(ria) se tornar.
Uma garota por quem já fui apaixonada leu as linhas dessas mãos uma vez, e riu e sorriu muito, mas não me explicou o porquê. Talvez ela já previsse que minhas mãos dariam minha voz e meus gestos. 
(31/8/2015)

terça-feira, 27 de outubro de 2015

enxergo

Amigos o elogiam, dizem que ele combina comigo.
É bem provável que com o tempo toda essa minha armação carregue consigo danos bem visíveis. E essa superfície tão translúcida tão limpa suje-se demais depois de muitas experiências, irreversivelmente. Já ouço vozes dizendo que a culpa é minha, que não cuidei o suficiente, fui irresponsável como sempre. Tudo bem, vai passar. Outro vai ser parte do meu dia a dia e vou me acostumar a enxergar o mundo com ele, vamos ser um só.
Óculos vêm e vão. O apego as pessoas veem em vão.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

escapismo

Entre enchentes e secas. Entre crianças famintas e obesas. Entre doenças reais e hipocondria. Entre guerras e tédio. Entre tanto tema, entretanto, só espero que ele entre na minha vida. Entre tanto tema eu ainda volto a falar de amor. Mas não devo ser tão julgada, é que sou crente, acredito em signos, em tarô, em horas iguais, por que não acreditar no amor? Nos últimos tempos eu estava com o coração regurgitando até o meio da garganta, engasgada, com a sensação de que esse mesmo coração era filho adolescente rebelde querendo fugir da segurança de casa, apenas para sofrer. Mas agora lembro que a gente cria filho para o mundo, não para prender. Deixo o meu partir, viver, sobreviver, mal sobreviver, aprender sobre viver. Amar é preciso, viver não é preciso.

https://soundcloud.com/legildo/escapismo

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Nova postagem

Vivo de cinzeiros improvisados. Meus pais não sabem que eu fumo, nem imaginam, não aceitariam, talvez não me dessem mais dinheiro com o intuito de controlar o vício. Fumei em casa pela primeira vez essa semana. Incenso disfarça o cheiro, ou fedor. Fumar, mais do que um ato de rebeldia, mais do que a busca pelo prazer e relaxamento, é um segredo exposto, escancarado, como a minha dor, como a depressão já diagnosticada e mal tratada. Algo incompreendido. Essa porta aberta pela qual não se atrevem a entrar, com esse terreno do qual escapo por breves instantes, ou do qual tenho a ilusão de escapar.
Ele me deu flores na noite de hoje, improvisadas, arrancou de seu condomínio. Elas me fizeram sorrir quando voltei de madrugada para casa, acompanhada somente pelas luzes dos postes nas grandes avenidas da cidade, e esse foi o momento de ilusão, anestesiada. Nenhum beijo foi combinado também. Ele em si não foi combinado, não o pedi a Deus. É que tenho me acostumado a viver de amores improvisados e com dificuldade de encontrar local para depositar as cinzas. Meu desejo de amar outra pessoa é fênix.


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

senhas (sujeitas a alterações futuras)

Não gosto que mexam nas minhas coisas, que coisa
Não gosto que entrem no quarto sem bater à porta
Não gosto de erros ortográficos exagerados
Não gosto de ser chamada quando estou assistindo a algo
Não gosto de carro lento e Voz do Brasil
Não gosto de frequentar aulas
Não gosto de ter que dormir
Não gosto de ter que levantar
Eu gosto de você; droga
Eu gosto de fazer listas
Eu gosto de morder e apertar
Eu gosto de chocolate e flores, sim
Eu gosto de escrever
Eu gosto da noite
Eu gosto de xingar muito em pensamento
Eu gosto de dançar
Eu gosto de música em volume alto; o recadinho de que isso causa danos à audição? não ouço

Mas o mais importante é que adoro solidão e odeio dormir sozinha

outra anotação antiga do diário

uma vez li um livro inteiro do leminski na livraria saraiva sem pagar, e ele dizia que a vida é curta demais para mais de um sonho. a cada dia concordo mais e acordo para meu sonho. nessa semana que acaba agora risquei poesia nas paredes do quarto, fui atrás de ajuda psicológica pela primeira vez, fiz sexo com meu garoto, disseram que eu estava linda com vestidos novos, fumei um cigarro em segredo enquanto admirava lá em cima um céu de intenso azul e aqui embaixo algumas flores. parei por um instante. senti paz. meu sonho é em essência viver e registrar. estou com sede de tudo.


domingo, 16 de novembro de 2014

No fundo do meu peito bate calado um coração

          Sabe aqueles quadros impressionistas que de perto são borrões e de longe dá para tirar algum sentido? Eu não conseguia entender nós dois, por que havia começado e sido tão intenso se depois iria aparecer tanta dor de cabeça, tanta decepção. Mas agora já se passou um bom tempo, e em vez de sentir raiva ou tristeza por ter sido descartada mesmo depois de ter me esforçado ao máximo para agradar e não deixar a relação se destruir, eu penso que o grande problema era a minha falta de amor-próprio. Agora me envergonho.
Estou dissecando as memórias de nós dois. O que vivenciamos juntos com certeza me foi à mente com cores diferentes das que surgiram na sua, vimos e escutamos o mesmo, mas o captamos desigual. Dei mais valor do que deveria, enxerguei mais colorido do que realmente era. Essa é a grande merda, você sabe, eu me entrego além da conta. Ainda bem, tanto para mim quanto para você, que acabou de vez. Meus olhos são humanos, sim, e erram, mas fotografei você na minha rolleiflex algumas vezes e revelou-se a sua enorme ingratidão.
                Estamos no século XXI e essa coisa ultrarromântica de querer morrer com coração partido está fora de moda. Tenho 20 anos e espero que muito mais adiante.  O que houve deve servir de lição para tomar cuidado com a pessoa que sou, sem permitir que ocorra excessiva influência alheia para que me transforme. Devo ter sabedoria para decidir por mim própria a pessoa que desejo ser, correr atrás dela, sem procurar receber a aceitação de outro alguém.
                Ninguém se importa mesmo. Já desisti de tentar fazer com que alguém me ouça e me compreenda. Tanto faz o que eu vivi ou vivo, não vale a pena relatar para alguém específico que não tenha tido a mesma experiência. Empatia me parece uma palavra utópica. A dor de um verdadeiro sentimento de solidão é imensurável, e faz a nossa existência parecer desnecessária. Mas hoje, agora, estou conseguindo me amar e não sentir vontade de atirar uma bala na minha cabeça. E quero voltar a escrever e não há ninguém que me cale a boca.