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domingo, 16 de novembro de 2014

No fundo do meu peito bate calado um coração

          Sabe aqueles quadros impressionistas que de perto são borrões e de longe dá para tirar algum sentido? Eu não conseguia entender nós dois, por que havia começado e sido tão intenso se depois iria aparecer tanta dor de cabeça, tanta decepção. Mas agora já se passou um bom tempo, e em vez de sentir raiva ou tristeza por ter sido descartada mesmo depois de ter me esforçado ao máximo para agradar e não deixar a relação se destruir, eu penso que o grande problema era a minha falta de amor-próprio. Agora me envergonho.
Estou dissecando as memórias de nós dois. O que vivenciamos juntos com certeza me foi à mente com cores diferentes das que surgiram na sua, vimos e escutamos o mesmo, mas o captamos desigual. Dei mais valor do que deveria, enxerguei mais colorido do que realmente era. Essa é a grande merda, você sabe, eu me entrego além da conta. Ainda bem, tanto para mim quanto para você, que acabou de vez. Meus olhos são humanos, sim, e erram, mas fotografei você na minha rolleiflex algumas vezes e revelou-se a sua enorme ingratidão.
                Estamos no século XXI e essa coisa ultrarromântica de querer morrer com coração partido está fora de moda. Tenho 20 anos e espero que muito mais adiante.  O que houve deve servir de lição para tomar cuidado com a pessoa que sou, sem permitir que ocorra excessiva influência alheia para que me transforme. Devo ter sabedoria para decidir por mim própria a pessoa que desejo ser, correr atrás dela, sem procurar receber a aceitação de outro alguém.
                Ninguém se importa mesmo. Já desisti de tentar fazer com que alguém me ouça e me compreenda. Tanto faz o que eu vivi ou vivo, não vale a pena relatar para alguém específico que não tenha tido a mesma experiência. Empatia me parece uma palavra utópica. A dor de um verdadeiro sentimento de solidão é imensurável, e faz a nossa existência parecer desnecessária. Mas hoje, agora, estou conseguindo me amar e não sentir vontade de atirar uma bala na minha cabeça. E quero voltar a escrever e não há ninguém que me cale a boca.


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